A vida sexual do morcego-hortelão-escuro



A maioria dos mamíferos reproduz-se através de penetração, ao contrário, por exemplo, das aves, cuja transmissão das células sexuais masculinas para a fêmea ocorrem através do mero toque das cloacas de ambos.

Até agora, pensava-se que se reprodução dos mamíferos só acontecia com penetração, mas uma investigação sobre a vida sexual do morcego-hortelão-escuro (Eptesicus serotinus) revelou que, no final de contas, não é bem assim.

Uma equipa liderada por cientistas da Universidade de Lausanne, na Suíça, mostrou que o pénis deste morcego insetívoro, que ocorre também em Portugal, especialmente nas regiões Centro e Norte (estatuto Pouco Preocupante), é demasiado comprido e largo para permitir a penetração. Num artigo divulgado recentemente na publicação ‘Current Biology’, os investigadores explicam que o órgão sexual deste quiróptero é sete vezes mais longo do que o comprimento da vagina de uma potencial parceira e a glande é também sete vezes mais larga do que a entrada vaginal.

O pénis do morcego-hortelão-escuro é demasiado comprido e largo para permitir a penetração, pelo que os investigadores quiseram perceber como é que se conseguiria reproduzir.
Foto: Alona Shulenko (coautora do artigo)

Isso levou os cientistas a questionarem como conseguiria esse animal reproduzir-se. A resposta? Fazem-no ao estilo das aves. Como o pénis do macho é demasiado comprido e largo para a penetração, os morcegos-hortelões-escuros tocam os respetivos órgãos sexuais um ao outro, transferindo, assim, as gâmetas masculinas para o corpo da fêmea.

Os investigadores dizem que o macho usa o pénis, depois de ereto, como uma espécie de ‘braço’, com o qual movimenta a fêmea para a posição mais adequada à cópula e levanta a membrana caudal da companheira. Durante as observações, perceberam que as cópulas duravam, em média, 53 minutos, mas em alguns casos poderia ir além das 12 horas.

Pensa-se, embora ainda sem certezas, que as fêmeas usam a membrana caudal, que as ajuda a controlar o voo, para protegerem as suas partes sexuais de potenciais parceiros nos quais não tenham interesse.

“Os morcegos usam as suas membranas caudais para voar e capturar insetos e os morcegos fêmeas também as usam para cobrirem as suas partes inferiores e para se protegerem dos machos”, afirma Nicholas Fasel, primeiro autor do artigo. “Mas os machos conseguem usar esses grandes pénis para ultrapassar a membrana caudal e alcançar a vulva.”

Este é o primeiro caso alguma vez documentado de um mamífero que se reproduz sem haver penetração.

A vida sexual dos morcegos está ainda envolta em grande mistério, uma vez que se trata de animais notívagos e que tendem a viver em locais aos quais os investigadores têm difícil acesso, se é que conseguem mesmo alcançá-los.

O trabalho resultou da análise de muitas horas de filmagens de um grupo de morcegos-hortelões-escuros que viviam num sótão de uma igreja nos Países Baixos, bem como da observação de morcegos em cativeiro num centro de reabilitação na Ucrânia. Através do estudo de quase uma centena de eventos de cópula, os cientistas não verificaram qualquer penetração, o que os levou então à conclusão de que esses seres alados se reproduziam de uma forma nunca antes vista em mamíferos.

O próximo passado para estes investigadores será perceber se, de facto, este comportamento resulta em fecundação, pois como só o observaram através de filmagens não puderam confirmar se tal realmente aconteceu.





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