Antártida pode perder 65% da biodiversidade até 2100. Pinguins-imperadores são os mais vulneráveis



O aquecimento global está a fazer derreter os glaciares e plataformas de gelo os polos do planeta, um processo fortemente acelerado pelas emissões de gases com efeito de estufa que são lançados na atmosfera pelas atividades humanas por todo o mundo. Além da subida do nível do mar, que ameaça fazer desaparecer ilhas inteiras e engolir as orlas costeiras, a diversidade de vida nesses locais remotos, para a qual o gelo é um elemento indispensável, está também em perigo.

Num artigo publicado este mês na revista ‘PLoS Biology’, cientistas de vários países alertam que os atuais esforços de conservação dos ecossistemas na Antártida são “insuficientes” e preveem que até 2100 se perca 65% das populações de animais e de plantas desse continente gelado no polo sul da Terra.

Através de entrevistas a 29 especialistas, os autores da investigação perceberam que as alterações climáticas são entendidas como a maior ameaça à biodiversidade da Antártida e que limitar o aquecimento global através da concertação global entre os vários governos do mundo é essencial para os trabalhos de conservação.

“O que este trabalho mostra é que as alterações climáticas são a maior ameaça às espécies da Antártida e que o que precisamos é de esforços de mitigação globais que as salvem”, diz Jasmine Lee, da Universidade de Queensland e principal autora do artigo.

“Isso não só ajudará a salvaguardar o futuro dessas espécies, mas também o nosso”, salienta.

Com as atuais medidas de proteção e num quadro em que o aquecimento global ultrapasse os dois graus Celsius – um cenário cada vez mais provável dado que, até agora, não se conseguiu reduzir as emissões de gases com efeito de estufa nem a destruição da natureza –, as estimativas apontam para uma perda de 65% das plantas e animais antárticos até ao final deste século.

A investigação permitiu perceber que o pinguim-imperador (Aptenodytes forsteri) é considerado a espécie mais vulnerável ao aquecimento global, sendo que outras aves marinhas e invertebrados, como os nemátodos, que vivem no solo estão também fortemente ameaçados.

Pinguim-imperador (Aptenodytes forsteri), Antártida

Mas os autores do artigo dizem que é possível evitar esse cenário devastador, desde que sejam impulsionados os esforços de conservação e os fluxos de financiamento para garantir a proteção dos ecossistemas da Antártida, sendo que deixar que esta biodiversidade desapareça será muito mais caro do que investir agora na sua devida proteção.

A implementação regional de estratégias de gestão de ameaças pode beneficiar até 74% das plantas e animais nessa zona remota do planeta, sustentam os cientistas, explicando que para isso será preciso um investimento de cerca de 1,92 mil milhões de dólares (perto de 1,8 mil milhões de euros) ao longo dos próximos 83 anos. Ou seja, uma quantia que equivale a apenas 0,004% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial de 2019.

As alterações climáticas e as atividades humanas têm colocado cada vez mais pressão sobre a Antártida, pelo que os cientistas acreditam que só a conjugação de esforços de conservação globais e regionais permitirá salvar a biodiversidade e os ecossistemas desse continente e preservá-los para as gerações futuras.

“Conservar a biodiversidade da Antártida para as gerações futuras exige compromisso político e ações práticas quer na região antártica, quer a nível global”, escrevem, e os Estados que são parte do Tratado da Antártida, de 1961, e do qual Portugal é membro não-consultivo, devem “implementar ações de conservação regionais” e, ao mesmo tempo, “encorajar todas as nações para cumprirem o Acordo Climático de Paris”.





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