Aquecimento global pode aumentar frequência de tsunamis submarinos na Antártida



Quando pensamos em tsunamis, as primeiras imagens que nos surgem são de ondas gigantescas a varrer cidades inteiras do mapa. Mas abaixo da superfície dos mares também ocorrem maremotos, e sabe-se agora que podem ser fatores de grande importância para a vida marinha e até para a distribuição da temperatura dos oceanos.

Num artigo publicado na revista ‘Science’, um grupo de cientistas o Reino Unido descobriu que os tsunamis submarinos ‘misturam’ a água dos oceanos, deslocando nutrientes de uma região para outra, com impactos nos ecossistemas e na diversidade de formas de vida. Até agora, pensava-se que essa mistura seria causada pelo vento e pelas marés, mas observações feitas na Antártida chamaram a atenção para o papel que o colapso dos glaciares desempenha nesse processo.

Os cientistas explicam que, embora parte chegue ao mar na forma de água líquida, muito do gelo dos glaciares antárticos separa-se da massa gelada principal e fica à deriva no mar, como icebergues, que podem ter variadas dimensões, desde pequenos pedaços de gelo a pedaços gigantescos que podem ter o tamanho de um país.

Cientistas a bordo do navio científico RRS James Clark Ross, na Antártida.
Crédito: British Antarctic Survey

Quando os glaciares libertam icebergues no mar, é sentida uma série de efeitos. Atentando num icebergue com cerca de 78 mil metros quadrados, que se desprendeu do glaciar William, os investigadores perceberam que a temperatura na coluna de água parecia uniformizar-se. Antes do desprendimento, entre os 50 e 100 metros de profundidade a temperatura era consideravelmente mais reduzida do que mais perto da superfície. Mas a massa do icebergue fez afundar a água mais quente à superfície e subir a água mais fria que estava a maior profundidade.

Além disso, os cientistas observaram também a deslocação massiva de água, quer acima, quer abaixo da superfície, “criando ondas dentro do oceano”, diz Michael Meredith, principal autor do artigo, que “causam a mistura do mar e isto afeta a vida marinha”, a temperatura a várias profundidades e podem até impulsionar o degelo.

Anteriormente, os tsunamis submarinos tinham sido registados como consequência de deslizamentos de terras para o mar ou de terramotos, mas não se sabia que estavam também a acontecer nas profundezas das águas gélidas da Antártida. Os autores escrevem que esse fenómeno poderá estar também a acontecer noutros locais do planeta onde existam glaciares, como na Gronelândia ou no Ártico.

À medida que a Terra se vai tornando mais quente, devido à ação dos gases com efeito de estufa concentrados na atmosfera e que impedem que o calor recebido do sol se dissipe, os cientistas dizem que devemos esperar o aumento da frequência dos tsunamis submarinos. Quando mais quente estiver o planeta, maior será o degelo, mais icebergues serão libertados nos mares pelos glaciares e maior será a mistura das águas oceânicas.

Com a perturbação causas por essas ondas subaquáticas, os cientistas dizem que é preciso mais trabalho de investigação para compreender de que forma isso poderá afetar o carbono sequestrado no leito oceânico e as consequências no clima da Antártida.





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