Grande Entrevista: “A filosofia da Greenpeace está viva em Portugal”



A Greenpeace continua preocupada com a realidade portuguesa – ainda que as suas acções no terreno tenham diminuído nos últimos anos – e está a trabalhar com uma grande marca global de produtos ligados ao mar para que esta se torne mais sustentável.

Numa entrevista exclusiva ao Green Savers, Tom Lowe, um dos responsáveis pela comunicação da organização não-governamental (ONG) de ambiente Greenpeace, revelou algumas das prioridades da entidade – e abrir um escritório em Portugal não é uma delas –, esclareceu a forma como ela actua e os instrumentos que usa para deixar o mundo um pouco melhor do que o encontrou.

Por que razão a Greenpeace deixou Portugal?

Não abandonámos Portugal e, aliás, nunca aí tivemos um escritório, apesar de tal acontecer em vários outros países de todo o mundo. Dito isto: em Portugal temos centenas de milhares de apoiantes empenhados que traduzem o material para português, ligam-se às nossas petições globais, mantêm as nossas contas de redes sociais, amplificam as nossas mensagens e partilham os esforços de um futuro melhor.

A Greenpeace não são escritórios de tijolo e argamassa, mas sim [uma organização de] acções individuais, numa escala massiva, [que almeja] um futuro melhor. Essa filosofia está viva e bem, em Portugal.

Ainda assim, a Greenpeace poderá estabelecer-se em Portugal a curto prazo, com uma equipa estável?
Sim, existe essa possibilidade, claro, mas não temos planos para abrir um escritório da Greenpeace em Portugal.

Quais os maiores desafios para a Greenpeace em Portugal, Europa e resto do mundo?
A Greenpeace trabalha em vários temas, muitas vezes interrelacionados entre eles, ligados ao progresso sustentável, equitativo e ambiental. Uma das agendas mais reconhecidas da Greenpeace, porém, está ligada à batalha contra as alterações climáticas. Esta é a mais proeminente.

A pesca sustentável é um dos mais importantes temas do momento para os supermercados portugueses. A Greenpeace desenvolveu algumas acções em 2010, em Portugal. Ainda seguem o tema?

A campanha pelas pescas sustentáveis é uma das mais importantes, globalmente, para a Greenpeace, e estamos muito contentes por, depois de anos de lobbying – a Greenpeace e outros grupos – os Governos do mundo terem dado um passo importante para um acordo juridicamente vinculativo para proteger os oceanos e alto mar, no mês passado.

A próxima fase da campanha da Greenpeace será mais dura, porém, uma vez que temos de nos insurgir contra as indústrias que exploram os oceanos, como as que estão por trás da Regional Fisheries Management Organizations (RFMO, organização internacional dedicada à gestão da pesca sustentável), que está mal gerida… Digo isto porque estamos a assistir a uma queda dramática da maioria dos stocks de pexe mundiais.

A Greenpeace está ainda a trabalhar com uma marca muito conhecida para que ela torne mais sustentáveis os seus produtos ligados ao mar. Infelizmente, não podemos dizer o nome da marca, uma vez que as negociações ainda decorrem.

Qual a mais importante campanha da Greenpeace da actualidade. A Save The Arctic?

A Greenpeace tem várias campanhas a decorrer – ligadas aos oceanos, florestas, fim dos químicos, clima e energia – e cada uma tem várias subcampanhas e projectos, por isso é impossível definir uma como a “mais importante”. Uma das agendas mais conhecidas da Greenpeace, no entanto, é a batalha contra as alterações climáticas, por isso as campanhas ligadas ao clima e energia podem ser as mais reconhecidas.

A campanha Save The Arctic consiste na oposição à exploração assustadora de petróleo e gás e da pesca industrial no ambiente ainda intocado do Árctico.

Há várias organizações não-governamentais (ONG) globais ligadas ao ambiente, mas existe a percepção, em Portugal, que a Greenpeace é a principal. Isso é verdade?

Damos muito valor aos nossos apoiantes portugueses e reconhecemos que um dos factores que mais influenciam as campanhas da Greenpeace é termos pessoas como eles.

Quantas pessoas trabalham para a Greenpeace globalmente e quanto dinheiro recebe a organização por ano?
É difícil perceber quantas pessoas trabalham para a Greenpeace, uma vez que alguns trabalham como funcionários permanentes, outros são voluntários que trabalham de graça, outros são freelances, colaboradores pontuais ou consultores. Mas há 28 escritórios nacionais e regionais na Europa, Américas, África, Ásia e Pacífico, para além de uma equipa coordenadora, a Greenpeace International. Todas as nossas informações financeiras, por ano, podem ser encontradas no nosso site.

De que forma trabalha a Greenpeace com empresas e Governos para alterar a forma como estes olham para a sustentabilidade e economia verde?
A Greenpeace tem várias tácticas – políticas, comunicações através dos media, científicas, acções directas e pacíficas, petições online, mobilizações ou jurídicas. Ou seja, não existe uma resposta única e isolada. Há um artigo do Business Insider que explica bem a forma como condensamos a nossa resposta.

Quais as principais vitórias da Greenpeace, ao longo dos anos?
Vou reencaminhá-lo novamente para o nosso site.

De que forma a Greenpeace influencia as políticas económicas e ambientais da União Europeia, Estados Unidos e China e qual o país ou região mais difícil de mudar?
A Greenpeace tenta influenciar todos da mesma forma: aconselhamento, campanhas nos media e acções directas. Cada região ou situação são um desafio diferente, mas também uma oportunidade para termos um futuro mais brilhante por todo o mundo.

Foto: Eneas De Troya / Creative Commons, sobre a pressão da Greenpeace para que a Lego terminasse uma parceria com a Shell. O que veio a acontecer.  





Notícias relacionadas



Comentários
Loading...