Presidente do Banco Mundial abandona cargo com missão de descabonização por concluir
Jim Kim apresentou, esta semana, a sua demissão do cargo de chefe do Banco Mundial depois de três anos a liderar a entidade financeira. Para além de ter apanhado todos de surpresa, deixou por concluir a missão de descarbonização total que havia estipulado no seu plano de ação, escreve o ”Climate Change News”.
Segundo a ”Reuters”, Kim enviou uma carta aos funcionários do banco que dizia: “Concluí que este é o caminho pelo qual eu conseguirei causar o maior impacto em importantes questões globais como a mudança climática e o défice de infraestrutura em mercados emergentes.”
Segundo Rachel Kyte, líder energético que trabalhou como enviado especial do Banco Mundial no clima entre 2014 e 2015, Kim “completou a mudança na política energética iniciada por Bob Zoellick [presidente do banco mundial 2007-2012] e desafiou todas as partes do banco a entender o que a desmistificação das alterações climáticas faz aos objetivos em desenvolvimento de todos os países”, disse.
Especialistas dão destaque a Jim Kim como o presidente que mais combateu as alterações climáticas na história do Banco Mundial. ”Jim Kim tem sido o mais estridente dos presidentes do banco no que toca a cumprir metas de prevenção ao aquecimento global, uma tarefa importante nos tempos que correm”, disse a investigadora Glada Lahn da ONG Chatham House.
Em 2017, o banco anunciou que iria parar de financiar o entidades de petróleo e de gás natural até 2019. Depois, prometeu duplicar os seus investimentos em projetos de investimento com baixa emissão de carbono nos próximos cinco anos elevando o orçamento para 200 mil milhões de dólares, algo nunca visto.
Em outubro de 2018, Kim recusou-se a apoiar uma fábrica de linhito de 500MW em Kosovo – o que ficou marcado como uma das suas ultimas medidas – e “deixou uma mensagem clara” de que “o carvão já não é a única opção de ‘baixo custo’ e que os bancos não deveriam promover este tipo de recurso”, disse Lahn.
Contudo, no ano passado, um relatório revelou que o Banco Mundial e os seus parceiros ainda financiam várias centrais de carvão nas Filipinas. O banco também continuou a financiar recursos que auxiliam a indústria de combustíveis fósseis, como se viu em 2016, quando autorizou um empréstimo de 500 milhões de dólares para um gasoduto entre o Azerbaijão e a Itália. Este empréstimo foi criticado por grupos ambientais como um subsídio que reforçaria o uso de combustível fóssil da UE durante muitas mais décadas.
Judy Shelton, diretora executiva dos EUA no conselho do Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento, uma instituição financeira multilateral com sede em Londres, disse ao Financial Times que a saída de Kim significava “potenciais oportunidades interessantes”.
“Precisamos de novas ideias sobre financiamento para o desenvolvimento”, disse ela. “As alterações climáticas tornaram-se numa obsessão em demasia e adiaram projetos de infra-estruturas que permitem a criação de empregos urgente”, explicou.
Não é inédito a escolha dos EUA ser desafiada. Uma série de países em desenvolvimento se opôs à tomada de posse de Kim em 2012, dando preferência ao então ministro das finanças nigeriano Ngozi Okonjo-Iweala, que surgiu como concorrente. Agora, o desinteresse do governo Trump em lidar com as alterações climáticas e a sua atual postura pró-carvão, petróleo e gás, poderá ser um grande impasse na eleição do novo chefe do banco.
O último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês) que prevê um desastre climático mesmo no caso do aquecimento ser limitado a 2ºC, este deve ser um documento base para o sucessor de Kim, disse Petr Hlobil, diretor de campanha do Bank Watch. “O novo presidente deve usar o relatório do IPCC para alertar que restam apenas 12 anos para reverter esta tendência e transferir as finanças do Banco Mundial para a transição para uma economia de carbono zero”, disse Rachel Kyte, líder energética que trabalhou como enviada especial do Banco Mundial no clima entre 2014 e 2015.