Filipe Janela, Siemens: “Há um caminho a fazer para aproximar o mundo empresarial e académico”



Numa altura em que comemora 110 anos em Portugal, Siemens reforçou a colaboração com universidades e start-ups, de forma a trazer o que de melhor se produz no meio académico para o mundo empresarial.

Numa entrevista ao Green Savers durante a Green Business Week, Filipe Janela, director de Inovação da Siemens Portugal, fala dos marcos de inovação da empresa ao longo de mais de um século de actividade no país e de como é feita a ponte entre o desenvolvimento e a sustentabilidade.

A Siemens comemora, em 2015, 110 anos de presença em Portugal. Quais os principais marcos ao nível da inovação que destacaria ao longo destes mais de 100 anos?

A Siemens tem-se distinguido, nestes últimos 110 anos, naquilo em que são os seus sectores de actividade em geral, desde a área da saúde à parte da indústria ou da energia. Diria que, na parte da energia, temos acompanhado tudo o que foi o desenvolvimento do país, quer do ponto de vista da sustentabilidade quer do ponto de vista das energias mais convencionais baseadas na energia fóssil, nomeadamente as centrais de ciclo combinado. Temos também o acompanhamento e toda a tecnologia que foi já introduzida na parte das renováveis, sobretudo na componente eólica.

Na parte da mobilidade e das cidades temos muito trabalho feito ao nível da eficiência energética e de grandes edifícios. Acompanhámos o desenvolvimento da ferrovia, que é uma área onde ainda hoje estamos muito presentes, desde os eléctricos ao metro do sul do Tejo. Desenvolvemos um sistema de armazenamento de energia para as catenárias que permite ao veículo continuar a circular sem estar a receber energia constantemente.

A área da imagem e a área mais laboratorial são as duas áreas de intervenção fundamentais a nível da saúde da Siemens neste momento. E houve sempre um acompanhamento daquilo que foram as tendências de redução da dose [de radiação] e hoje Portugal tem equipamentos de referência a nível internacional. A Siemens tem feito para que o país acompanhe estas tendências do ponto de vista da inovação em cada contexto em que operamos.

Como é que caracterizaria o panorama do desenvolvimento e inovação actual de Portugal?

Acho que é um momento positivo. Foram muitos anos de um esforço – que continua a ser sentido – de colocar o tema da inovação, da investigação e do desenvolvimento na agenda e não só do contexto empresarial como do contexto académico. Isto é um dos pontos mais importantes e que ainda carece de algum trabalho. Há um caminho a fazer em como aproximar estes dois mundos, o do mundo académico, que tem um stock de conhecimento alargado. Muito deste conhecimento tem um interesse do ponto de vista empresarial e económico mas, muitas vezes, ou por dificuldades na transladação ou por algum desinvestimento da própria academia, acaba por não ter consequências do ponto de vista económico quanto à sua utilização.

Hoje o grande desafio não se coloca só ao meio académico e ao meio empresarial mas também ao meio das start-ups e do empreendedorismo, que tem vindo a ganhar uma dinâmica extraordinária nos últimos dois anos, sobretudo em Lisboa e no Porto. Este mundo tem uma facilidade muito grande não só em gerar ideias como também a transpô-las para o mercado e, por isso, o grande desafio de hoje é trabalhar nesta trilogia de actores.

E como é que a Siemens tem estado a fazer essa aproximação com as universidades e centros de investigação?

Trabalhamos com muitos parceiros – diria que temos mais de 30 parceiros activos do meio científico e tecnológico, dentro das várias áreas de actividade. Actualmente, em média, mais de 90% dos nossos projectos são feitos com parceiros externos e isso é fundamental. A inovação não está apenas dentro das paredes da organização. A inovação é feita com os parceiros. Começámos em 2007/2008, com o lançamento de um projecto de doutoramento dentro da empresa, que foi uma iniciativa que nos obrigava a trabalhar com uma universidade. Isto foi muito importante para trazer para dentro da empresa competências que não temos e que procuramos aprender com estes parceiros e, ao mesmo tempo, dar às entidades académicas competências de foco no negócio, foco no atingimento de determinados objectivos. Por isso, tem sido um sucesso esta colaboração ao longo dos últimos anos.

Como é que a Siemens concilia a parte da inovação com a parte da sustentabilidade? Como é que se faz esta ponte?

Eu diria que é a estratégia core da organização. Um dos pilares da nossa estratégia mundial é a sustentabilidade, que de alguma forma orienta o que são as estratégias de cada área de negócio. Por isso, cada área da nossa casa tem essa preocupação. Temos exemplos do lado da energia, do lado dos transportes e da saúde, onde por exemplo há a preocupação no desenvolvimento de produtos mais verdes, com a redução de materiais como o chumbo ou com a redução do consumo de hélio, o aumento da percentagem do equipamento que possa ser reciclado e reintroduzido na cadeia de criação de novos produtos.

Falava da área energética. O que é que a Siemens tem feito neste campo ano nível da sustentabilidade?

Por exemplo, as próprias centrais termoeléctricas de ciclo combinado. O ciclo combinado está relacionado com uma maior eficiência na utilização de energia. Em vez de trabalharmos com taxas de eficiência a rondar os 40% trabalhamos com taxas de eficiência na ordem dos 60%. A ideia é com a mesma quantidade de gás, por exemplo, obter mais energia eléctrica. Em todo o nosso espectro de funções a sustentabilidade faz parte da nossa estratégia. Quando em 2014 fomos galardoados com o prémio de sustentabilidade do Dow Jones, no nosso sector industrial, ganhámo-lo por isso – a sustentabilidade é algo que está embebido em tudo o que fazemos.

Qual o último grande projecto da Siemens que tenha sido maioritariamente dedicado à sustentabilidade?

O Crystal é um projecto bandeira mundial nesta área. Está relacionado com a criação de um edifício de raiz em que a preocupação pela eficiência energética e auto-geração de energia assume um papel central. Tendo de destacar, aponto o Cristal como um dos grandes projectos sustentáveis da Siemens.

Quais são os objectivos futuros e os desafios da Siemens para a área da inovação?

Ao nível da inovação será acompanhar tudo o que está a acontecer e olhar para a frente. Hoje em dia temos de ter a capacidade de olhar à nossa volta e ver o que é que a própria sociedade tem como preocupação. Mas também temos de perceber estas dinâmicas que vão acontecendo entre os vários parceiros, tendo como objectivo a co-criação de projectos inovadores. O grande desafio da inovação passa ainda por acompanhar os ciclos tecnológicos e este desafio de trabalhar em rede, sempre com o grande objectivo de oferecer soluções inovadoras.





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