Madagáscar: como os pescadores perceberam que a solução está na conservação
Há mais de 1.000 anos que os Vezo, povo semi-nómada do sudoeste de Madagáscar, vivem unicamente do que pescam no Canal de Moçambique. Mas quando o biólogo britânico Alaisdair Harris visitou a região, há mais de 10 anos, descobriu aldeias piscatórias com dificuldades em encontrar peixe suficiente para se alimentarem, devido ao aumento populacional e decréscimo dos stocks marítimos.
Conta o The Guardian que, quando Alasdair e a sua organização, a Blue Ventures, sugeriram que os Vezo fechassem uma das suas zonas de pesca por alguns meses, em 2004, a reacção não foi muito positiva. Mas foi aceite.
“Quando a reabrimos, apanhámos 1.200 quilos de polvo num só dia”, recordou Gilas Adrianamalala, que trabalhava na Blue Ventures como investigador. “Convidámos pessoas de 20 aldeias para ver o produto da pesca, para mostrar à comunidade que só têm a ganhar se olharem pelos seus recursos”.
Hoje, a Blue Venture tornou-se influente na comunidade global de conservação. Em Madagáscar, outras comunidades piscatórias seguiram o modelo e o País tem hoje centenas de áreas costeiras monitorizadas e protegidas pela população local. “Cerca de 11% da área costeira de Madagáscar está sob protecção”, explica Harris. “O que é extraordinário, se pensarmos que Madagáscar é um dos países mais pobres do mundo”.
O sucesso de Blue Ventures levou a que organizações de países vizinhos replicassem o modelo de protecção das suas áreas costeiras. Os Vezo representam uma fracção dos milhões de pessoas que sobrevivem em regiões costeiras que são altamente vulneráveis às alterações climáticas.
Segundo Harris, os programas de conservação só funcionam se todos trabalharem junto dos que dependem do mar, ajudando-os a reconhecer a importância da conservação ao nível humano. “O nosso sector nunca compreende. A maioria das pessoas são marginalizadas pela conservação”, continua Harris.
Há muito que os ecologistas dizem que 30% dos oceanos têm de ser protegidos, mas menos de 1%, actualmente, goza deste estatuto. “A abordagem tem de ser radicalmente diferente”, concluiu, enquanto dá um exemplo: há centenas de zonas de pesca protegidas em Madagáscar, um país pobre, mas apenas dois ou três no Reino Unido. Isto faz algum sentido?
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