Ninhos de quebra-ossos são verdadeiras cápsulas do tempo



Os quebra-ossos, abutres da espécie Gypaetus barbatus, são “acumuladores de vestígios históricos”, diz um grupo de cientistas num artigo publicado recentemente na revista ‘Ecology’.

A investigação, que reuniu vários especialistas de instituições científicas e académicas espanholas, revela que o estudo dos ninhos dessas aves ameaçadas de extinção na região do Mediterrâneo, e o abutre mais raro da Europa, ajuda a compreender a história da coexistência entre elas e os humanos.

Através da análise de 12 ninhos bem preservados de quebra-ossos no sul de Espanha, onde a espécie se extinguiu há entre 70 e 130 anos, a equipa identificou mais de 200 “vestígios antropogénicos” antigos, como pedaços de calçado, couro e flechas, a par de fragmentos de ossos e de cascas de ovos.

Além de serem a única espécie de abutre que se alimenta sobretudo de ossos, daí o seu nome comum, os quebra-ossos usam os mesmos ninhos ao longo de várias gerações, por décadas ou mesmo séculos. Assim, os ninhos, construídos e mantidos com materiais que os casais vão recolhendo nas imediações, acabam por tornar-se registos históricos.

Entre os materiais humanos encontrados, os cientistas identificaram fragmentos de cestaria datados do século XVIII, uma sandália feita de corda que se presume ser do final do século XIII e o couro curtido de uma ovelha com mais de 600 anos.

Dizem os investigadores que “estes elementos antropogénicos são de grande valor etnográfico”, uma vez que atestam “a criação de artefactos feitos através de fibras de plantas na região mediterrânica da Península Ibérica já há 12 mil anos”.

Além das informações que fornecem no que toca à presença e atividades humanas, bem como aos hábitos alimentares dos quebra-ossos, os ninhos ajudam também a determinar a presença histórica dessas aves e a encontrar possíveis áreas de reintrodução.

“O estudo destaca os quebra-ossos como bioindicadores excecionais”, diz em comunicado a organização Vulture Conservation Foundation (VCF), que trabalha para a conservação de quebra-ossos e de outras espécies de abutres.

“Os seus ninhos contêm dados preciosos sobre a distribuição dos animais, condições ambientais, poluição e atividades e alterações culturais humanas ao longo do tempo”, aponta a VCF. Devido à escolha cuidadosa dos locais onde constroem e mantêm os seus ninhos e aos hábitos de reutilização, os quebra-ossos tornam-se “não apenas guardiões da biodiversidade das montanhas, mas também arquivistas involuntários da História humana”.

Por tudo isso, “ao proteger os quebra-ossos e os seus habitats, estamos também a salvaguardar registos inestimáveis do nosso passado partilhado”, sublinha a organização.






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