Quanto custa uma migração para o campo mal sucedida?



O Green Savers já recebeu dezenas de e-mails de leitores que procuram conselhos para trocar a cidade pelo campo. Na verdade, este é um dos objectivos de milhares de portugueses, que vêem nas zonas rurais e interiores do país um El Dorado para encontrar mais tempo para a família e uma nova vida numa região desprovida de poluição, stress e habitação a preços elevados.

Como explicam os responsáveis do Novos Povoadores, o programa português de repovoamento rural, a mensagem é romântica e toca a todos os portugueses que são vítimas de stress urbano. “Migrar para o campo aparece como um desígnio para os tempos modernos. Mas melhorar a informação sobre as oportunidades disponíveis e os riscos inerentes a este processo é a missão do Novos Povoadores”, explicam os técnicos de repovoamento no seu site.

O território português de baixa densidade tem falta de emprego, consequência de um tecido empresarial pouco inovador. Isso gera desemprego, que antecipa o fenómeno do despovoamento.

“Inverter este ciclo passa por captar empreendedores capazes de transferir para o território rural as atividades tradicionalmente urbanas de elevado valor acrescentado”, continua o Novos Povoadores, que dá o exemplo de quem deixou a cidade e começou a transformar a lã de ovelha em mochilas chic ou uvas em vinho para comer.  “[Estas] são fórmulas que criam emprego na cadeia produtiva”, segundo o programa.

No entanto, alertam os fundadores do Novos Povoadores, cada família é um caso, e a configuração familiar, as competências dos adultos e as vocações dos seus filhos obrigam a uma análise cuidada sobre os melhores destinos rurais para a sua migração.

“A ansiedade pela aquisição de nova habitação é emocional e legítima, mas nem sempre racional e correta”, de acordo com os responsáveis pelo programa. “A alergia de um membro da família à vegetação local, a falta de condições para a instalação de uma nova empresa ou a incapacidade de escoar os seus produtos ou serviços, são causas comuns para transformar sonhos em pesadelos”, continuam.

É impossível perceber, sem um estudo cuidado, qual o custo material e emocional das migrações mal sucedidas. No entanto, onze das treze famílias que desistiram do projecto migratório que teve a consultoria dos Novos Povoadores acabaram por se separar.

Para os técnicos do Programa Novos Povoadores não é fácil desaconselhar uma família a migrar. No entanto, é um conselho recorrente: 461 famílias atendidas, 140 foram desaconselhadas a migrar.

“O insucesso é uma parte da realidade. No outro lado da estatística estão 255 famílias aprovadas, e dessas 132 estão instaladas em pequenas vilas do território rural português com o apoio do Programa Novos Povoadores. É uma gota no oceano. Mas são estas gotas que estão a reconfigurar aquilo a que designamos por campo”, concluem os técnicos.

Caro leitor: trocou recentemente a cidade pelo campo? Gostaríamos de conhecer a sua história. Envie-nos o seu relato para o nosso email – info@greensavers.sapo.pt –, para posterior publicação, ou, se preferir, deixe-nos na caixa de comentários. Aqui ou no Facebook. Conheça um relato de sucesso, do ex-publicitário Rui Rodrigues, neste episódio do Economia Verde. 

 

Foto: Figueira de Castelo Rodrigo, um dos destinos do programa Novos Povoadores / Turismo En Portugal / Creative Commons





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