Cimeira de Cancún: “As Nações Unidas salvam a face, mas este acordo não salvará o planeta”



Afinal, a Cimeira de Cancún terminou em acordo. Modesto, mas não deixa de ser um acordo. Era este o ambiente que se viva no final do COP16, na cimeira que reuniu no México cerca de 190 representantes de outros tantos países.

Ainda assim, as críticas não ficaram na gaveta: “As Nações Unidas salvam a face, mas este acordo não salvará o planeta”, escreve hoje o britânico The Guardian.

O acordo não fixa metas vinculativas de redução de emissões de gases com efeito de estufa – para países ricos ou pobres – mas determinada um objectivo de dois graus Celsius como limite para o aumento da temperatura média global até ao final do século.

Foi também aprovada a criação de um Fundo Verde Climático para os países em desenvolvimento, que deverá arrecadar 76 mil milhões de euros por ano a partir de 2020.

Este montante será gerido por um comité de 24 membros – 12 de países ricos e outros tantos de países pobres – sob uma direcção provisória do Banco Mundial.

Em relação ao prolongamento do protocolo de Quioto, um dos temas quentes da conferência, os países comprometeram-se a concluir este objectivo o mais rápido possível, para não existir um hiato entre o primeiro e o segundo período de cumprimento. O primeiro período de cumprimento, recorde-se, termina já em 2012.

Finalmente, reconheceu-se a necessidade de “cortes profundos” nas emissões globais, para manter o aumento da temperatura média global abaixo dos dois graus Celsius. Assim, os países desenvolvidos deverão liderar nos esforços, dado serem historicamente responsáveis por mais emissões. Já os países em desenvolvimento deverão adoptar acções nacionais – apoiadas e verificadas internacionalmente – para controlar as suas emissões até 2020.

Os textos foram aprovados por 190 países. Apenas a Bolívia não assinou o acordo, por pretender um acordo mais ambicioso.

Reacções ao acordo:

“Vocês restauraram a confiança da comunidade internacional”, Jairam Ramesh, ministro do Ambiente da Índia.

“[O conjunto de textos], mesmo que não seja perfeito, é incontestavelmente uma boa base para avançarmos”, Todd Stern, chefe da delegação norte-americana em Cancún.

“A vontade política para uma acção vigorosa ainda não é suficientemente forte para uma resposta global adequada para fazer face à ameaça climática. Mas as acções nacionais mostram que os países reconhecem a necessidade e os benefícios de uma economia verde”, Quercus, em comunicado.

“Para um acordo fadado ao fracasso, o COP16 surpreendeu. O encontro deu um novo fôlego para o clima, tirando da letargia o difícil processo de negociação das Nações Unidas”, jornal O Globo, Brasil.

“A Bolívia não está preparada para assinar um documento que significa um aumento da temperatura média, que colocará mais pessoas perto da morte”, Pablo Solon, delegado da Bolívia em Cancún.

“O acordo proposto não inclui um compromisso para estender o protocolo além de 2012, quando ele expirar, mas evita o fracasso das negociações e proporciona alguns pequenos avanços na protecção do meio ambiente”, Agência Reuters.

“[Cancún] foi além das expectativas e foi importante para restabelecer a confiança nas negociações internacionais, que tinham ficado comprometidas em Copenhaga”, Dulce Pássaro, ministra do Ambiente de Portugal.

“As Nações Unidas salvam a face, mas não salvam o planeta”, The Guardian, Inglaterra.

“É a primeira vez que os países concordam com um conjunto tão vasto de instrumentos e ferramentas para ajudar os países em desenvolvimento a enfrentarem os desafios da mitigação [controlo de emissões] e da adaptação”, Christina Figueres secretária-executiva da ONU para as alterações climáticas.





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