A Cultura como motor para um futuro ambientalmente sustentável



No primeiro dia da Conferência “Cultura, Coesão e Impacto Social” organizada pela Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia, foi discutida no Painel 3, “Cultura e Sustentabilidade Ambiental”, a importância da cultura e dos artistas para um futuro mais resiliente, verde e sustentável.

Mafalda Dâmaso, investigadora do Departamento de Cultura, Média, e Indústrias Criativas no King’s College London, foi a moderadora deste painel, que contou com a participação de Maria Teresa Adell e Enric Girona da Mancomunidad Taula del Sénia, Mariana Pestana, arquiteta e curadora independente, membro do Grupo de Trabalho Português sobre a Nova Bauhaus Europeia, Sacha Kagan, Professor na Faculdade de Humanidades e Estudos Sociais da Universidade de Leuphana, e Daan Roosegaarde, artista que fundou o Studio Roosegaarde, nos Países Baixos.

De acordo com Mafalda Dâmaso, o período pandémico deve ser aproveitado como um catalizador de mudança, através do qual deve ser criado um setor da cultura mais sustentável, em primeiro lugar mudando as formas como se trabalha, usando menos produtos e materiais nocivos ao ambiente quando se cria arte, e em segundo lugar reconhecendo a pegada de carbono do setor, criando alternativas para as pessoas assistirem aos eventos em todo o mundo, sem terem de viajar e estar lá pessoalmente.

Por outro lado, a investigadora sublinha também que a cultura pode intensificar a velocidade da transição para a sustentabilidade ambiental. Os artistas devem utilizar a cultura como combustível para a mudança.

No seguimento deste segundo ponto, os oradores mostraram diferentes ações que estão a ser praticadas nesse sentido de ‘criar a mudança’. Maria Teresa Adell e Enric Girona deram a conhecer o ” Sistema Agrícola de Oliveiras Antigas Território Sénia” em Espanha, reconhecido pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) como Sistema Importante do Património Agrícola Mundial (GIAHS). Ao longo de 207 mil hectares as oliveiras milenares são preservadas e conservadas, garantido o equilíbrio dos ecossistemas e da biodiversidade, e são igualmente potenciadoras da atividade económica da região – tudo isto de forma sustentável.

Por sua vez, Mariana Pestana afirmou que “apesar de vivermos uma séria e inegável crise climática, não conseguimos imaginar um mundo de outra forma”. A arquiteta sublinhou que deve haver uma mudança nas nossas ideias de progresso e de desenvolvimento para garantir um futuro, e que a cultura pode ser a chave. Reconheceu ainda a importância do novo Bauhaus europeu, uma iniciativa que reune a arte, a cultura, a inclusão social, a ciência, a tecnologia, e a sustentabilidade ambiental. “Para sobreviver no futuro, devemos produzir projetos para os ecossistemas, não para clientes individuais”.

Quanto ao Professor Sacha Kagan, revelou que a modernidade tem contribuído para uma cultura de insustentabilidade e de complexidade, e que devemos repensar as nossas maneiras de ver o mundo e a não ter medo do que é complexo. Sublinhou ainda que os objetivos de sustentabilidade levam as organizações artísticas a abordar várias dimensões e objetivos, como o engangment com as questões ecológicas, boas práticas de gestão ambiental, a integração das minorias e a procura da justiça social.

Em último lugar, Daan Roosegaard reforçou o poder da criatividade e da imaginação para um futuro mais sustentável. O artista criou o estúdio Roosegaard há 20 anos e desde aí tem desenvolvido com a sua equipa vários projetos, como o “Van Gogh Path”, “Gates of Light”, “Waterlicht”, “Grow” e o “Urban Sun”, que envolvem a arte e a tecnologia de forma sustentável, alertando para as alterações climáticas e promovendo um futuro resiliente. Como o próprio descreve, “a criatividade é o nosso capital”.

Mafalda Dâmaso conclui a palestra evidenciando a importância da cultura como ferramenta e fonte de inspiração para um futuro mais sustentável. “Se queremos alcançar a sustentabilidade ambiental a tempo, para cumprir os objetivos do Acordo de Paris, precisamos que os artistas e os atores culturais estejam envolvidos nestas discussões desde o início” refere. Esta mudança pode ser feita através de um maior envolvimento dos artistas e da garantia de mais oportunidades para a sua participação e contribuição nesta matéria.





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