Portugal é o sexto país da UE com maior consumo per capita associado à desflorestação tropical
Portugal é o sexto país da União Europeia (UE) com maior consumo per capita associado à desflorestação tropical, e o nono com mais desflorestação importada proveniente dos trópicos, revela o novo relatório publicado hoje pela Associação Natureza Portugal (ANP/WWF) e a World Wildlife Fund (WWF).
O “Em crescimento? O impacto continuado do consumo da UE na natureza a nível global” indica que a UE é um dos maiores importadores de desflorestação tropical e emissões associadas, estando à frente de países como a Índia, Estados Unidos da América e do Japão. Em causa está também a destruição de ecossistemas não-florestais como prados e zonas húmidas.
Os dados sugerem que entre 2005 e 2017, a UE foi responsável por 16% da desflorestação ligada ao comércio internacional, o equivalente a 203 mil hectares e a 116 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) emitidas.
O problema deve-se em grande parte a produtos importados como a soja (89.047 hectares anuais), o óleo de palma (69.198 hectares anuais), a carne de bovino (27.692 hectares anuais), o cacau (17.586 hectares anuais) e o café (14.487 hectares anuais). Os três primeiros alimentos estão a provocar maior impacto, respetivamente, na América do Sul (soja e cacau) e no Sudeste Asiático (óleo de palma).
Catarina Grilo, Diretora de Conservação da ANPlWWF, afirma: “este relatório fornece informação essencial para uma ação concertada e urgente em defesa das florestas e da biodiversidade existente. Sabíamos que o consumo dos países da União Europeia tem um impacto significativo na desflorestação das regiões tropicais e na conversão de habitats, mas não sabíamos com o rigor científico que nos é apresentado agora que a UE apenas é ultrapassada pela China, consumindo mais florestas tropicais e destruindo outros ecossistemas que a Índia, Estados Unidos e Japão. A forma como comemos em Portugal e na Europa está literalmente a devorar as florestas mundiais e outros ecossistemas também.“
Numa altura em que a Comissão Europeia planeia apresentar uma nova legislação relativamente ao combate à desflorestação, a organização apela a um enquadramento justo e eficaz. “A Comissão Europeia, e Portugal, deverão considerar os resultados deste estudo como um alerta e criar uma proposta de legislação forte e capaz de combater a pegada da UE – é importante impedir que os produtos que contribuem para a destruição da natureza (legalmente ou ilegalmente) e que violam direitos humanos, entrem nos mercados europeus, e garantir que as empresas cumprem as regras definidas, indo por isso muito além das atuais medidas voluntárias existentes”, sublinha Catarina Grilo.
A garantia de que “os produtos e bens de base colocados no mercado da UE são sustentáveis, em vez de apenas serem considerados “legais” de acordo com o país de origem” e a introdução de “requisitos obrigatórios para empresas e para o setor financeiro para garantir a devida diligência, rastreabilidade dos produtos de base e transparência da cadeia de abastecimento”, são algumas das medidas que a WWF pede que se encontrem na nova legislação.
Consulte o relatório completo aqui.